Meu objetivo? Inquietar as palavras. Adentrar seus multiversos
Não deixá-las imóveis no limbo da irracionalidade oras como
rainhas donas da verdade, oras como farrapos esquecidos de tecidos esgarçados.
Agitar as palavras é tarefa para poetas, pois são eles que
as tiram do adormecimento mortal e as tornam objetos mais que meras letras
unidas. Com isso abre brechas para a reflexão. Lê-se ou ouve-se: morador de
rua, vê-se e questiona-se: morador de rua? Isso existe?
Mais do que atrelar a palavra à realidade é trazê-la à tona,
colocando-a em evidência desdobrando-a até sua nudez juntamente com seu real
sentido. E quais seriam estes? Evidenciar ou camuflar nossa ínfima condição
humana, nossos medos, nossos terrores, nossos amores e porque não ousar em
falar no nosso âmago – os instintos tão falados e desconhecidos como feras entranhadas
no redemoinho de nosso ser.
Sim Deus e o Diabo entrelaçados no redemoinho, não na rua,
mas nas esquinas de nossa alma. É lá que eles habitam e muitos de nós tentam
negá-los apenas iludindo-se nas capas de santidade.
Negar a existência dual camuflando o mal que nos habita não
nos fará melhores e muito menos sábios. Daí o comover as palavras, para também
comover os seres. Agitar o homem em suas convicções, convidá-lo a um instante
de instabilidade e ondulação de chãos para sentir o sabor das mudanças das metamorfoses
sem as quais não chegaremos a outras e melhores condições.
Se sou poeta? Não, não sou. Ouso ser e nessa ousadia
tento-me como em tentação de criança
para apanhar o doce escondido antes do almoço. Tento na medida infinita do meu
tentar e isso é mais do que pode acampar a vontade em meu ser, esse que por
ilusão sustentamos agora com essa aparência.
O mesmo sucede à palavra. Assim como somos a aparência desse
corpo que carregamos, as palavras também de acordo com nosso agir e pensar. No
entanto, o que vemos atualmente é uma tremenda tentativa de adormecimento
mental para esse universo rico e transformador que se prefigura em nossas bocas
por meio de palavras.
Somos representados nelas quando abrimos nosso pensar pela
boca, somos descobertos mesmo tentando nos acobertar ainda assim com elas.
Somos portanto mais que reflexos das mesmas, somos o substantivo e também o
verbo SER que fazem delas existências e permanências bem como mudanças as quais
adiamos pelo mal uso e fatalmente pelo desconhecimento desse universo mágico,
lógico e igualmente lúdico.
Palavras, sejam bem-vindas ao universo da inquietação.
andreiACunha
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