..."O que não sou também é uma forma de ser. Eu sou eu e meus
avessos."
Fábio de Melo
Sigo por caminhos que tem a minha forma. Nada me é novo, mas
ao mesmo tempo tudo me é novo no manejo e na maneira em que desvendo as trilhas
que persigo.
Cada giro é uma nova etapa embora tenha a impressão de saber
o que fazer por já ter feito em algum tempo do antes. Porém, o tempo ilude.
Somos tempo vivendo e sendo consumidos nas areias de sua
ampulheta que segue e gira.
Penso-me demais, sinto-me demais. E meu instinto pede uma
trégua em pacto compacto de agir mais enquanto o tempo segue em sua fúria.
Caso contrário, serei consumida pelos grãos que em breve ‘caem’.
Não sou mais criança e ainda assim não me sei agir. Culpo-me pela criança que
carrego em meu ventre. Esse eu mesmo que se recusa a nascer por medo.
Medo de quê?
Tempo só é inimigo quando o ser se deixa engolir sem agir no
nada mais a fazer. Não há certo ou errado, mas o ficar atado na inércia,
mortificado pela górgona não trará a comoção necessária, o movimento em paixão,
a luz da razão, para a próxima ação que também pode ser ferida-ilusão. Só ecos
de mim...
O mistério é em concílio ditado em carta assinada em areia.
A prova de sua existência fica por conta da memória que se encarrega de ser
bênção ou maldição.
E então o que somos? Memória viva em corpo que luta na
imprevisibilidade da morte no minuto seguinte? Nada nos pertence, nada nos é?
Só se é o que se foi e mesmo assim já era na expectativa do que no próximo
segundo será?
Não consigo pegar os instantes. Retê-los é sentir a inércia
da morte. Eis o medo. E eu ainda quero a vida vivida, completa, desmedida na
espessura do caminho que me trilho.
Tenho a forma infinita do labirinto interrogação. Esse é meu
mar à vista, minha terra movediça. Meu céu em chão, meu chão em céu. Véu.
andreiACunha
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