Seu artigo era um luxo, extremamente cobiçado apesar das
pessoas não saberem exatamente para que servia. Quando se anunciava um modelo
mais avançado, filas imensas se formavam nas lojas para que um felizardo
pudesse contar a todos que foi o primeiro a adquirir o Nada mais novo.
O segredo para se vender o Nada era a estratégia. Tudo na
vida são estratégias, embora muitos não concordem com esse reles narrador que
agora fala a seu modo. Enfim, o último Nada era inferior ao primeiro. Imaginem.
No entanto, as pessoas não notavam essa diferença por ter em
sua caixa o termo NOVO, AVANÇADO e com MAIS RECURSOS. Ah, as palavras: enganam
e muito. Fato é que o criador do nada era mesmo muito criativo. E isso não se
pode negar.
Ele começou batendo de porta em porta, mostrando seu
produto. Depois se fixou como camelô numa praça central. Nessa época já possuía
uma clientela. As vendas foram crescendo, pois o boca a boca é melhor que
pólvora com fagulha.
Quando conseguiu abrir uma portinha, já não era mais uma
portinha. Os lucros e o saber lidar com o dinheiro foram bem generosos com o
tamanho da porta. Uma indústria: a indústria do Nada. Muitos funcionários e
muito nada sendo construído.
Hoje, apesar de o produto ser inferior ao primeiro, isso não
o torna um fracassado. Muita gente nasce nesse mundo e todos querem um dia
comprar um indispensável Nada mesmo que seja para dizer que foi o primeiro a
adquirir o mais novo.
E você já comprou o seu?
P.S. : Ó estranho alienígena, se disser que não o conhece,
com certeza te perguntarão: de que planeta você vêm?
Andreia Cunha
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