ESTE É O RETRATO VERBAL DE UMA VIAGEM QUE TIVE DE ATURAR.
QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA (OU NÃO)...
(O bom na escrita é que sempre existem novas possibilidades de leitura)
Este é um conto que deveria ficar esquecido entre as folhas
amareladas de um livro escuso nos confins de uma caixa de papelão. Mas nem
sempre os fatos são como queremos ou imaginamos.
Por isso, enquanto narradora peço com urgência: por favor,
calem a Dona Carochinha. Leiam só o que ela criou e vejam se não tenho razão:
Era uma vez uma bolha. Primeiro ela era pequenina do tamanho
de um botão. Sua habitação ficava numa terra chamada intestinos. Ao que tudo indica
a bolha em questão foi criada pelo maquinário do ser que dela se intitula mãe.
Um corpo cientista tentando criar seu Frankstein.
Ao sentir seu ser completo e formado, percebeu que se
tratava de um monstro e não mais um simples botão. Triste, pobre e podre criatura.
Não podia sair e para isso deveria manter-se presa nas cadeias intestinais.
No entanto, o mesmo corpo-cientista-mãe que a criou, também foi
capaz de dar vida a outras tantas. De modo que as monstras não se continham
mais em ínfimo espaço. Por estarem disputando espaços nas cadeias intestinais,
o odor foi crescendo a ponto de causar desconforto na fábrica inteira.
Para variar sua dona estava num ambiente fechado e isso só
causava mais revolta nas bolhas insurgentes. Um estopim em breve aconteceria. E
não deu outra: em guerra todas as bolhas começaram a se organizar contra o
carcereiro que impedia a porta de saída entre ferros e cacetetes.
Uma desarmônica sinfonia desandaria em confusão e nada mais
poderia ser feito contra o pobre carcereiro que sozinho tentava manter a ordem
e o progresso da nação.
- Que nação que nada. A liberdade era o lema, ela sim era o
princípio da nação, pátria ou o que quer que fosse.
As bolhas eram firmes em seus propósitos e nada as impediram
de encontrar a tão sonhada liberdade aérea as quais foram feitas. Nem com as
negociações em andamento as coisas se resolviam.
Um dos acordos era o de saírem silenciosamente uma a uma sem
causar tumulto, mas o mar não estava para qualquer criatura mediante o estado
crítico que se formou. Seria a força mesmo e com todos os direitos
resguardados.
Exalariam o hino da nação aos quatro ventos doesse em quem
doesse. Munidas de aríetes as bolhas bailavam a dança mística da saída causando
alaridos internos no corpo-mãe que se contorcia freneticamente tentando manter
as aparências.
As cores estavam doidas e doloridas para escaparem e não transfigurarem
o rosto da cientista-mãe. Tanto que fizeram que uma hora conseguiram. Alguém dentre
as bolhas resolveu iniciar a nona sinfonia de Beethoven e já preparavam Pompa e
Circunstância para o triunfo pleno.
E lá foram elas, eternas enquanto durassem os espaços para
serem desocupados. A maior vitória foi o odor que de tão imenso fez o público
ao redor chorar oras de tanto rir oras de tanto chorar por terem de aguentar
tamanha falta de educação do corpo mãe que as havia produzido.
As bolhas? Felizes alçaram voo sendo por vezes consumidas
pelos narizes alheios ou pelos vãos do recinto fechado apesar do ar
condicionado ligado. E assim, elas foram felizes para sempre!
Andreia Cunha
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