Ousarei. Mas nunca neguei não ter meu ladinho atrevido,
ousado e irreverente. A cara do santista está mudando, (não, não me refiro ao
torcedor do time) digo do morador da cidade de Santos mesmo.
O que há por trás de minha afirmativa? Há uma pincelada de
tudo o que se possa imaginar como crítica e reflexão, embora não seja alguém
especificamente capaz de emitir tais pareceres de forma embasada em pesquisas
ou relatórios sobre a questão. Atenho-me ao fato de ser observadora e leitora
do assunto bem como da realidade.
Um boom imobiliário está eclodindo na cidade. Inúmeros
arranha-céus hoje chamados de torres estão sendo construídos e de maneira
frenética para abarcar a mão de obra que virá de fora em busca da mina de ouro
afortunada que representa o pré-sal.
Entristece-me ver o que antes era uma universidade ser destruída
em favor de um novo empreendimento. Dói-me, maiormente perceber que a maioria
dos compradores são empresas que pensam em lucrar fornecendo esses apartamentos
para seus futuros funcionários – que com certeza não serão da cidade, pois não
há investimento na educação e formação dessa mão de obra específica que será
necessária para essa nova cara da região.
A parcela que vive do porto (ainda maioria na cidade) está
fadada ao fracasso, pois ao que tudo indica a área portuária santista está predestinada
a unicamente ser terminal de passageiros, deslocando as cargas para o futuro
porto de Peruíbe. Com isso, o nível de vida se eleva absurdamente, empurrando o
verdadeiro santista a se mudar para outras cidades: São Vicente, Praia Grande e
regiões periféricas.
Tais evidências não são factíveis por pesquisas. É visível
triste e infelizmente real. Há
pouquíssimo investimento na educação dos jovens que aqui vivem nessas áreas que
tomarão a cidade como campo de trabalho. Daí advém a necessidade de vir de fora
a tal mão de obra especializada no que se refere a educação superior.
Aos poucos e de modo um tanto sutil para a maioria, que se
atém ao universo cotidiano do trabalho sem a noção ampla de como tudo se
processa, vemos essas mudanças se efetivarem e a cara da cidade mudar expelindo
o filho de Santos para outros cantos devido ao encarecimento não só do metro
quadrado da região bem como do padrão de vida que está se elevando
verticalmente.
Óbvio que há o lucro em jogo, o poder e igualmente a
oportunidade de visibilidade da cidade num nível nacional. No entanto, o que
questiono é o direito de igualdade para o santista aqui nascido competir com o
time de trabalhadores que virão. E isso não acontece.
Há ainda a questão’ ganância’ no tabuleiro desse xadrez: torres gigantescas mais
a extração de petróleo das camadas do pré-sal são duas bombas de caráter catastrófico
caso não aconteçam planejamentos pautados na seriedade e não somente na
conquista cega pelo dinheiro que isso
possa alavancar bem como os desastres ambientais.
Enxertar água onde
antes havia óleo é algo preocupante, visto que a densidade da água é muito mais
leve que a de óleo. Seria o caso de termos bolsões que podem ser preenchidos ou
arruinados pelo fato de a água não dar o suporte necessário para essa
sustentação. Aí sim teríamos algo de proporções bem calamitosas.
Não quero fazer um prognóstico pessimista. Apenas como
santista nascida e criada na cidade exponho minhas reais preocupações com tudo
o que vem acontecendo e tristemente percebendo a falta de postura política e
ética nos quesitos aqui mencionados.
Gostaria muito de ver meus ex-alunos em caráter de igual
oportunidade no mercado de trabalho e não apenas trabalhadores para turistas
quando estes vêm curtir um final de semana. O que a meu ver no futuro será um
imenso e indefinido final de semana caso não consigamos enxergar que algo
precisa realmente ser feito, algo substancialmente precisa mudar.
Andreia Cunha
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