Um eterno depois. A vida lhe parecia sempre vaga prestes a
ser preenchida pelo vazio que a tomava na espreita constante do que no depois
iria fazer. O corpo ansiava o futuro, mas na mente, o passado passava presente.
Ela? totalmente ausente de si no mundo real. Era futuro em
passado na angústia do que faria no instante seguinte. Era o acordar, a hora do
almoço, os afazeres rotineiros, modificados apenas pelos finais de semana que
no fundo eram tão iguais a outros finais de semana.
O mundo prosseguia como receita de bolo sem chances para um
algo inesperado. Tinha medo do inesperado. Procurava a segurança do depois
planejado e do passado na memória em eterno repetitório de quem já sabe o que
no depois virá. Eterno passado passado a limpo.
Um giro eterno na rotatória da vida em carrossel de altos e
baixos. O mesmo cavalinho branco conduzido pela força do motor que o impulsiona
nos movimentos circulares. Quando se é criança ainda há graça. Com o passar do
tempo, algo mágico se perde mesmo com as mudanças de paisagens e as formas de
se ver.
Queria descer do carrossel, sair dos giros gritantes
condutores de seu corpo acostumado àquele tipo de tortura-prazer. Não sabia se
ser. Fora dali seria apenas o cavalinho inútil e sem conserto. Relento.
Precisava com urgência reler-se, mas não sabia onde havia
deixado o livro que a decifrava em enigmas sobrepostos até mesmo para ela:
autora e narradora, personagem protagonista e coadjuvante, mocinha e vilã de
seus próprios atos.
Fatos a deixavam insegura e, por isso, a vida lhe assustava
tremendamente por não saber sair do papel que a fazia ser mesmo que assim na
condição minoritária que se julgava pertencer.
Sua augusta angústia viera no mês errado. Agosto já tinha
terminado. A perspectiva primaveril e os dias mais mornos com noites ainda
frias a deixavam oscilante, vacilante em sua temperatura madura imatura.
Gostava e gastava seu ser nesses lances fatídicos e
factuais. Nada mais reflexivo que a arte da dor no corpo que ansiava seu fim em
perseguição pelo bem supremo e comum. Sonhava. Era típica sonhadora e isso lhe
doía na alma.
Era fora do carrossel, fora da roda que bailarina bailaria
seus giros. Por enquanto, sonhava na caixinha de música como cavalinho em
carrosel.
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