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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

BAILARINA CAVALINHO CARROSSEL



Um eterno depois. A vida lhe parecia sempre vaga prestes a ser preenchida pelo vazio que a tomava na espreita constante do que no depois iria fazer. O corpo ansiava o futuro, mas na mente, o passado passava presente.

Ela? totalmente ausente de si no mundo real. Era futuro em passado na angústia do que faria no instante seguinte. Era o acordar, a hora do almoço, os afazeres rotineiros, modificados apenas pelos finais de semana que no fundo eram tão iguais a outros finais de semana.

O mundo prosseguia como receita de bolo sem chances para um algo inesperado. Tinha medo do inesperado. Procurava a segurança do depois planejado e do passado na memória em eterno repetitório de quem já sabe o que no depois virá. Eterno passado passado a limpo.

Um giro eterno na rotatória da vida em carrossel de altos e baixos. O mesmo cavalinho branco conduzido pela força do motor que o impulsiona nos movimentos circulares. Quando se é criança ainda há graça. Com o passar do tempo, algo mágico se perde mesmo com as mudanças de paisagens e as formas de se ver.

Queria descer do carrossel, sair dos giros gritantes condutores de seu corpo acostumado àquele tipo de tortura-prazer. Não sabia se ser. Fora dali seria apenas o cavalinho inútil e sem conserto. Relento.

Precisava com urgência reler-se, mas não sabia onde havia deixado o livro que a decifrava em enigmas sobrepostos até mesmo para ela: autora e narradora, personagem protagonista e coadjuvante, mocinha e vilã de seus próprios atos.

Fatos a deixavam insegura e, por isso, a vida lhe assustava tremendamente por não saber sair do papel que a fazia ser mesmo que assim na condição minoritária que se julgava pertencer.
Sua augusta angústia viera no mês errado. Agosto já tinha terminado. A perspectiva primaveril e os dias mais mornos com noites ainda frias a deixavam oscilante, vacilante em sua temperatura madura imatura.

Gostava e gastava seu ser nesses lances fatídicos e factuais. Nada mais reflexivo que a arte da dor no corpo que ansiava seu fim em perseguição pelo bem supremo e comum. Sonhava. Era típica sonhadora e isso lhe doía na alma.

Era fora do carrossel, fora da roda que bailarina bailaria seus giros. Por enquanto, sonhava na caixinha de música como cavalinho em carrosel.


andreiACunha






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