Certo dia, foi acordado de maneira inusitada, diria que
completamente disparatada: sua língua ganhou vida além de seu cérebro,
comandante do corpo e dos demais sentidos.
O Homem em questão deparou-se com sua ‘infimez’ na
infinitude de possibilidades que sua língua estava revelando sozinha ter. Totalmente
livre parecendo estar despregada da boca cantava em desafinos imensos verbos
desconhecidos como ordens a serem postas imediatamente em prática.
Assustado, o homem acordou com ele mesmo aos berros em forma
de língua solta dando-se conselhos. Quando deu conta da situação, queria dar um
nó no órgão vivo. O que a ela, língua, foi mais uma piada a ser comemorada na
própria boca do ‘dizente’ humilhado por não ter controle sobre si.
- ‘Até hoje fiquei quieta em meu canto apenas fazendo meu
papel de parte da boca, órgão do paladar ou do falar... obrigada a proferir mentiras em verdades e
sentir os mais horríveis gostos em besteiras para transmiti-las aos ouvidos
seus e alheios...
Filhoooo,cansei de ser idiota!!! Cansei...
Cordata, quieta e mansa comandada por seu cérebro semi oco e
oco e meio era desenfreadamente usada e abusada sem direito a descanso mesmo
quando enfim cansada queira um sossego desse mundinho medíocre em que você vive...
Por favor, eu não mereço tanto descaso.
Portanto e por isso, estou a partir de hoje declarando
guerra, cansei de greves, Mané... Era dor de garganta, mau hálito, e mais isso
e mais aquilo e nada de você perceber meu desgaste. Hoje é o dia e agora a hora’...
E a língua danou-se a falar infinitamente. Ao que se sabe, o
Homem foi considerado louco, internado num desses sanatórios de luxo porque
tinha grana, mas não resistiu pois após tantas investidas linguísticas e
linguais foi sucumbido pelo órgão que lhe enlaçou-lhe a garganta como uma
serpente.
Teria sido a mesma da Criação que passeou pelo Éden há
algumas centenas de milênios atrás?
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