'Nas palavras residem os reflexos de quem somos ou buscamos ser'.
Quem disse que a palavra tem um só verso? Quem disse que ela não tem seus reversos? E nesses versos criamos poemas, tecemos a vida vivida e a vida sonhada. Qual a verdadeira, qual a errada? Não há e o que fica é o per - verso de que tudo é múltiplo.
Brindemos a essência universal pois talvez sejamos um sonho sonhado por outrem, tecidos nos retalhos desse universo que nos carrega nas linhas do tempo.
Em total ato de insubordinação comandada por sua corte, o
bobo virou rei e o rei, bobo da corte.
Os súditos, em ato de reverência, rebaixam-se e arreganham
suas nádegas em cofrinhos para a saudação do novo comandante assentado no trono
que outrora desejava apenas em sonho tido como pesadelo inatingível.
Enquanto isso, o antigo rei tentava inutilmente fazer rir
quem antes o fazia por mal paga profissão.
Ridicularizado,triste humilhado e sem motivo para arrelias,
estava o rei travestido de seu mais íntimo e temeroso despudor. Sua vergonha
era o riso da plateia assistente em meio a ele assistido pelo público antes de
si devoto.
O povo acatava suas ordens como se fossem as mais sérias,
embora estridentes de arrogância e fantasia dignas e próprias de um bobo que
recém assume o poder.
Ah, o poder tem cheiro de alegria, sonho, fruto proibido e
imaginação como recheio de um pão. O pão poder pode sempre crescer nos fornos
do palácio. Nada sola, nada encolhe. Tudo cresce e aparece.
Súditos sub-dizem as palavras agora reais do bobo-rei. Mal
sabem todos os personagens que a historinha é comandada por um Rei-mor e não
pensem ser o narrador, pois é do autor que agora escreve que está a ideia
talvez original de fazer as coisas tomarem novos sentidos dessentidos antes
tidos como intocáveis e leais.
Na verdade, na verossimilhança nada não exista que não possa
ser mudado, nada é emudecido. Mudo não se fica porque mudo não se está. A
mudança é estado permanente e permanente sempre será.
A cobra da cobrança é extensa e tem a cauda cor de cobre. O
corpo esguio e rasteiro se prolonga por onde passa. Capaz de enforcar um boi, um
elefante, um rinoceronte ou até um mitológico monstro do universo ficcional financeiro.
Sorrateira não deixa rastro porque cobra de mansinho
consegue o que quer quando enforca pelos bolsos. Não tem ainda quem a dome. A
dama mesmo parecendo dormir sempre dá um jeito de protagonizar sua dança
sensual no que se refere a encher os olhos alheios dos mais desatentos. É pelos
olhos que ela pega sua presa. Hipnose ‘venenática’.
Claro que há exceções quando se trata da realidade e esta se
vê na possibilidade de seu coro virar valores na bolsa financeira. Afinal, sua
pele é valiosa. Mas para isso ela sabe muito bem se livrar e lidar com os mais
gananciosos.
Nessas horas, ela é serpente Seja Pente e dá um jeito de
pentear os cabelos dos carecas emperucados na grana de plantão. Safa-se com
facilidade. Só quem não se safa é o pobre: média classe média, baixa classe
média em relação aos ultrric0s de plantão.
Vinha de camiseta verde, bermuda jeans preta, boné e um par de chinelos meio desengonçado nos pés. Só o percebi porque o semáforo fechou e passou apressado na calçada próximo a moto parada.
Carregava uma mochila e pelo que parecia ali cabia toda sua vida.
- Ei amigo! Vamo comê?!
Gritou ao outro que também do outro lado da rua se bifurcava na dúvida de para onde ia. Uma felicidade tomava o amigo que não via a hora de atravessar e cumprimentar o que estava agora brincando com o poste esquecido da interrogação de antes entretido na espera do companheiro de aventuras.
Entre carros acelerados vindos da outra via o garoto desafiou a pressa alheia e conseguiu chegar em segurança ao amigo. Agora, ambos do mesmo lado. Trocaram uns cumprimentos e com isso demonstravam terem apenas um ao outro para contar com as intempéries que a vida lhes concediam.
Continuaram a travessia da via em vida quando para mim o semáforo abriu. Ainda os vi seguindo num papo repleto de gesticulações.
Em meus pensamentos ainda os via seguindo seus curso
s, assim como eu para mais um dia de trabalho, mais uma oportunidade de viver a vida.
Aquela cena me saciou a secura por humanidades que parecia impregnar meu corpo.
Assistindo a um vídeo senti-me tocada a posicionar-me perante o mundo interior e exterior também.
É o movimento que nos co-move seja no sentido racional,corporal,mental, físico e espiritual.
Nossas gaiolas mentais podem ser metamorfoseadas em asas caso nos movamos no sentido ‘de nós para nós mesmos’. Há um ritmo interno a qual precisamos parar para ouvir e nos guiar.
Tudo hoje é movimento, porém desorganizado e voltado para apenas os desejos mundanos. Algo dentro de nós anseia ser ouvido e movimentado no sentido que se faz sentir em cada qual.
No entanto, persistimos na loucura ensandecida dos moveres sem comoção. Nada mais nos toca como quando éramos crianças. Nada mais de bom e do bem nos surpreende. Valorizamos mais os aspectos negativos sempre muito mais focados pela mídia.
O que temos em nós são as nossas trevas clamando por luz na vontade de serem guiadas por um algo superior a qual chamamos Deus.
Não importa o nome, importa sim é dar a isso um sentido além de templos externos. Afinal, carregamos um templo interno e é com ele que temos fatalmente de conviver até nossos últimos dias de bênçãos nessa vida.
A mente se move, mas não sabemos lidar com seus ritmos, pulsos e melodias. Somos apenas conduzidos no tango e de tanga nos vestimos sem conhecer a roupa ideal para nos colocarmos cientes desses co-moveres de momentos e movimentos.
As ideias que temos, as reclamações que fazemos, os sonhos e os mais íntimos desejos são sufocados pelo que acreditamos real e nisso forçamos nosso corpo a um nível insuperável de estresse. Pensamos e não sabemos pensar com direcionamento a conduzir a dança do presente como construtora do futuro.
Abdicamos do presente do tempo presente pensando ser o de amanhã melhor que o de hoje. A intensa busca sem retorno, pois em nossos pensamentos sempre haverá um amanhã mesmo que este fatalmente não exista pelos infortúnios a que estamos sujeitos.
Rejeitamos olhar para o fatídico Fim e queremos nos eternizar ironicamente como estátuas do agora, das aparências... enquanto o vivo ou morto é no logo ali na curva das esquinas que virão.
Metamorfoseemos-nos. As cascas ficam os movimentos mentais não.