Acostumamo-nos a uma ideia de democracia aliada apenas a
bondade humana. Esquecemo-nos com isso a natureza do humano que reina as funduras
de todos nós: o mal.
Infelizmente o pago desse “acostumamento” é o reascender do
retrocesso e de tudo o que já foi vivenciado e que para muitos deveria ser
apenas resquícios de um passado mórbido.
Talvez essa negação desse mórbido mal por vergonha
evidenciou ainda mais a incapacidade do homem em lidar consigo mesmo.
Habita-nos uma besta, habita-nos um anjo, tudo depende de quem mais
alimentamos.
Eis a sabedoria, não se pode negar em si e na História da
humanidade a ascensão desses momentos cruéis. Escondê-los para debaixo do
tapete e criar um monturo nos cantinhos que em algum momento virá à tona porque
o cantinho cresceu e tomou o espaço inteiro da sala.
A maldade estava adormecida no poder, no entanto eis que ela
se reanimou nessas mãos que chegaram ao poder para ditar as normas e as regras.
Ideologicamente é nessas mãos débeis e imbecis que a maioria
se espelha para justificar sua barbárie, o pior de seus instintos e o
desrespeito a diversidade natural existente no mundo antes mesmo de nossa vil
presença.
A cegueira do olhar para o processo criador, em seu ato
criativo, dita ao homem que uma única raça comanda, é dotada de supremacia
sobre outras. O desdém está vinculado às aparências, é o aparente do agora sem
memória que nos faz répteis rastejante em círculos tortuosos e viciantes do
repetitório.
A História e a Literatura escancaram a toda a essência dos
nossos sentidos mas ainda assim mal conseguimos sentir o vento dos males pois a
maioria se “empreguiça” de sua real condição: aqui não é passeio, não é o
eterno gozo das delícias terrenas.
Luxuriosamente, os que enganam, iludem e se empoderam dos
recursos perecíveis não terão outro fim diferente daqueles que estão nos
lugares menos favorecido ou na miserabilidade. A fenescência, a morte o
apodrecimento é e está para todos.
Concordo com Menocchio, personagem real, porém com nome
fictício, ao julgar o homem o verme que habita o planeta visto como um grande queijo.
Nossa condição está muito aquém de anjos vestidos de brandura e “brancura”
pureza de peles alvas e iluminantes.
Até nisso a crueldade impera, até mesmo onde julgamos haver
a imparcialidade de uma força criadora. Nada em nós é angelical, pois
consideramos qualquer ato de bondade como um mérito e não como algo que deve
ser assim sem necessariamente esperar retribuições.
O bem não é algo que mereça ser retribuído porque foi
desempenhado, é apenas uma condição necessária para a existência tanto do
ajudado quanto do ajudante, nada mais verdadeiro do que a figura da unidade
nesses atos. Fiz e faço o bem porque sou um com o outro.
Enfim, a luz no fim do túnel ainda está distante, ilusoriamente
o homem cria mais espaço na escuridão pensando estar na luz que cega e atordoa
do que no controle da luminosidade necessária para seu enxergar melhor.
Ideologia e cultura se debatem, no entanto, é a ideologia
que permanece por preguiça, orgulho frente a partida que corresponde ao sair do
estado cômodo trono ilusório da riqueza que se cria para se manter na condição
de reis do universo.
Curta visão de quem curte a ilusão de ser o dono do poder.
Provisoriabilidade.