O nascimento e a morte
da criação se supõe na arte como meros requisitos reguladores da verdade tanto
e mais do que ambiciona ser a ciência e a religião.
AC
Apaixonei-me. Eu, o
criador; ela, a criatura - feita por minhas mãos e pensamentos. Como poderia
isso acontecer se eu sou real e ela apenas uma ideia pertencente a mim?
Não sei. Apenas distingo
como verdade que minhas dúvidas existem e, consequentemente temo que uma hora
elas sejam mais reais do que eu, enquanto autor.
Despertenço-me ou
nunca me pertenci? Meu medo é o de que a criatura por quem me apaixonei e coloquei
no mundo dos mortais seja maior que este ser que agora sou.
E como é complexo...
Sou esse todo, um bolo linguístico, que não se consegue destrinchar.Sinto que
me perdi e já faz tempo, antes mesmo de iniciar essa escrita maluca e linda que
escorre pelos dedos do alguém que também me cria.
Cria e pelo jeito crê
que posso ser autônomo da criação que me julga conceber , não mais creio mas tento
recriar-me dentro dessa insanidade. No entanto, penso que na verdade tudo pode
é estar do avesso e ao contrário e o medo se inverteu de céu a poço e vivo para
dar sentido ao insensato.
Nada é mais nítido do
que a incerteza e a volubilidade da vida pincelada em vermelho na mente que
delineia um belo pôr de sol.
Não restou e persisto
no presente- não resta - o absoluto de normas e regras. Sou esse ser que se
dilui nas cores aguadas da paleta que igualmente reflete o mundo em espelhos
infinitos e microlésimos até se perder no ponto do infinito.
Sinto que sou o ponto
e o contraponto desse agir verbal mal acabado. Nascido no mato das palavras -
língua viva que me lambe como mãe a me dar banho.
Meu destino não é
diferente do que todos um dia encararão. Ela me aguarda. Parece feia, mas é
bela e gloriosa a medida que dela me aproximo.
E eis que ela aqui
se realiza.