Não tenho receios. Não, tenho receios.
Não tenho, receios me assustam. No entanto, estou inundada
deles. Semeada de suas fontes originais. Escaldei-me em seu líquido e deles o
medo se fez. Mais que receios, filhos, o pai, medo, se alia a paúra e nos deixa
sem chão perante o caminhar lento que se tem a seguir.
Nada novo, nada velho e, ao mesmo tempo, tudo novo e velho
adensado na indefinição da visão que prefigura o vazio. Os filhos vêm primeiro
e remontam o pai e a mãe. Não faz sentido essa busca insana, delirante do ser
que não se sabe mais.
Cada ato criador e criativo é também dolorido como fardo carregado em ombros
famintos. Nasce-se velho e morre-se novo sem um colo que o acolha e ventre que
o aconchegue. O que é natural acaba sendo revertido nas areias desse tempo que
retrocede em vez de se alongar no infinito que se demonstra pela frente.
Frente e costas são as mesmas coisas. Tanto faz o passado
quanto o futuro quando o vazio é escuro. Não se faz distinção e essa
indefinição ao mesmo tempo em que se faz boa no sentido do não julgar traz
consigo igualmente a sensação de regredir.
Regressão, retrocesso... Quantas vezes se faz importante regredir:
resgatar o passado para se entender o presente no futuro que pode ser de vitórias e conquistas? Retroceder é que parece negativo, viver no e do passado.
Será que me engano nas palavras e patino na maionese de domingo servida à mesa
com a típica macarronada e a carne assada recheada?
Faço considerações inúteis e vagas como o que sou perante
meu espelho interior? A comida um gosto de manutenção das tradições, gosto de
passado. Sou-me toda isso? Paladar passado sonhando o futuro que não vem por
negligência em lidar com meus resquícios de memória?
‘Não me sei ainda me lidar’. Mal sei falar! O ego vem como
figos de sobremesa após o almoçar típico. Degusto-os arrancando-lhes a pele,
deixando-os vivos com as sementes expostas e essa é a polpa mais saborosa da
fruta.
Como-os com tanta vontade que sinto a dor do figo, da
figueira produzindo aquele fruto com sua vida em movimento embora presa às
raízes que a fizeram progredir. Como se faz para ser árvore ambulante? Como se
faz para dar fruto sem estar parado ao eterno lugar que te plantaram?
Não sou, por isso, árvore? Ou apenas planta insana no desejo
de sair para esta viagem intra e extracorpórea que vem a ser o não mais ser no seu
devir em devaneio? Será que sou fruto e talvez por isso sinta a dor do figo
descascado por mim sendo deglutido.
Minha essência é carregar o doce e a semente e não
enraizar-me, mas sobretudo percorrer os caminhos obscuros da alimentação de
quem consome o produto da mãe árvore produto de sua dor para o mundo?
Não tenho receios. Não, tenho receios. E muitos,por isso me assustam me fragmentam
na tentativa de impossível novamente me reunir. Já não se mais é a velha mente.
andreiACunha
Nenhum comentário:
Postar um comentário