Visto-me? Não... Ilumino-me! As cores vivas o modo sensual e
a maquiagem intensa fazem o meu repertório apropriado para chamar a atenção,
distrair e deixar quem me vê pronto para o consumo.
Sim. Adoro o sumo do
consumo que me molha e me alimenta. Vivo porque consumo o sumo alheio e que por
consequência some em meu corpo diluído em jorro que logo seca.
Não me visto. Apenas evidencio o que sou por meio das cores,
dos gestos, do ato em si. Seduzo, conduzo. Sou ousada, usada. Aliás, uso e
abuso do que tenho para viver. Vejo no ver da vergonha da palavra. Só isso. Que
mal há em enxergar e disso fazer uso em benefício próprio?
Quem quer vem até mim. Quem ouve é porque tem ouvidos e atende
a meu chamado pelo fato de perceber o meu amor mesmo que comprado em inúmeras
prestações de sangue e vida. Você ainda
insiste?
Se eu me visto? Não! Permaneço despida, nua mesmo que
vestida pelas cores do absurdo da combinação estipulada pelo dono do momento.
Oras só os mais manipuláveis enxergam minhas vestes. As vestes que vestem a
vista de quem se deixa seduzir.
Não preciso mais me oferecer. Sou de luxo. Sou de lixo.
Fácil de depois da compra ser jogada fora pela pouca duração. Fui feita para
durar pouco mesmo. A roda gira nesse ritmo. Obsoleto-me para que meus netos
resistam, pois os filhos já também passaram.
Sou fato em próximos fetos repetidos nos répteis que
rastejam como vida com a presença de um suposto deus em semelhança. Dou risadas
porque quem comanda sou eu. As ilusões que crio são as mesmas que com café Pelé
te reduzem a meus pés objeto de veneração. Doencinha venérea que pensa no
pensar aplicado ao curativo da ferida entreaberta. Não há meios de se livrar.
Só há fins de se acabar em meu colo acariciado, reduzido no pó do lixo do
consumo.
Intrometo-te enquanto intromete-me. Sumos de consumo.
andreiACunha
Nenhum comentário:
Postar um comentário