A cena teimava em se repetir infinitamente em sua cabeça. E como era chato não ter como pará-la para deixá-la lá no passado esmaecendo em seu decurso.
Enquanto isso, aquilo tudo parecia ter sido colado com o mais
potente adesivo mental em seu cérebro cansado.
O homem subia para a forca, lá se dependuraria para
representar a morte de um suicida. Não era a primeira vez que a encenava naquele
ano e em anos anteriores. Já havia superado o medo. No entanto a vida prega
peças assim como as peças as quais os homens tentam encená-las dia após dia,
tempos após tempos nos diversos lugares como cenários em suas respectivas
épocas.
Uma corda a pedido do ator fora colocada para esconder os
aparatos figurativos e dar maior realidade à cena. A corda foi dada e a mesma o
traiu. Assim como Jesus fora traído por seu suposto amigo que lhe dera um beijo
– ato sagrado e santo com o nome de ósculo.
A corda lhe dera o beijo fatal, suspirara em seus ouvidos
enquanto o ar lhe faltava nos pulmões. A própria dizia: “eis a realidade a qual
tanto pediste, eu sou ela enroscada em seu pescoço, tal como a serpente
iludibriando o homem em seus quereres e poderes”.
Não houve tempo para percepções aprofundadas dos colegas e
do público de que algo errado acontecia no ato.
A corda do enforcamento posta a pedido do ator pregou-lhe
uma peça mais que a própria peça.
Andreia Cunha
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