" A vida na sociedade líquido-moderna é uma versão
perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer.
O verdadeiro prêmio nessa competição é a garantia
(temporária) de ser excluído das fileiras
dos destituídos e evitar ser jogado no lixo".
Zygmunt Bauman - in medo líquido
Sabia por experiência que o mundo estava muito perigoso, que andar pelas ruas era algo cada vez mais surreal. Assaltos a agonizantes, pessoas bem arrumadas supostamente de bem como ladrões, vias repletas de pedintes e mendigos, drogados e toda a estirpe de loucos.
Sair para o trabalho? Uma tortura, teria que se deparar com essas cenas como se já fosse um peregrinante pelo umbral. Ele não conseguia mais imaginar o que fazer. Pela manhã, quando saía, na hora do almoço e no retorno para o lar vivia um verdadeiro estresse com direito a pânico: suores, batimentos cardíacos acelerados, olhares alterados.
Boa parte do medo se refletia em seu lar: grades por todos os lados, trincos, trancas e travas. Mas quanto a si na rua seu medo não o fazia pensar com clareza em como agir e que aparatos utilizar como defesa pessoal. Por vezes, pegava-se olhando sites para ver as novidades nesse quesito, entretanto nada o agradava. Parecia tudo ineficaz.
Lutas e técnicas marciais poderiam ter fim trágico. O que se pode fazer contra a velocidade de um gatilho. Guarda-costas? Não era nenhum famoso e isso só chamaria mais a atenção. Já usava coletes a prova de balas, ainda assim não se sentia seguro.
A única resposta, a mais plausível veio de muito pensar: a construção de uma espécie de gaiola em metal inoxidável que o envolveria da cabeça aos pés contendo lâminas pontiagudas acionadas por controle remoto em situações de perigo.
Haveria contratempos? Claro, ele bem os conhecia. O peso em ter de utilizar o trambolho, mas não teria de andar, acoplado teria um motor. Quem ousasse se aproximar com más intenções seria picotado como carne de açougue. Mediante a falta de moral e caráter, nada mais justo que se precaver com atitudes radicais, já que a justiça do homem é cega por conveniência e tem uma balança que pende sempre para o lado mais fraco.
A seu ver o ideal consiste em cada um se defender como pode e com o que possui. Nestes casos, é esperteza por esperteza e inteligência por inteligência.
Andreia Cunha
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