Em suas tradições o mostrar o corpo era o mesmo que revelar a alma. Não podia de maneira alguma mostrar o que só a ela e ao marido deveria pertencer. Poderia ser a mais bela ou a mais feia das mulheres, isto já era um motivo para não se revelar.
Ser mulher era uma condição difícil de ser vivida. Por costumes seculares de obediência a normas e preceitos, ela não questionava para os outros, mas sentia um tremendo desconforto com aqueles aparatos.
Era muito jovem e de família rígida. Tanto que seu casamento já estava previamente definido com um tio distante e bem mais velho. Não fosse o amor, culpado de todos os infortúnios humanos, prefigurado mitologicamente no corpo de um anjo com setas, ela seria mais uma das meninas obedientes e sem maiores problemas com as tradições.
Quis o destino que fosse diferente. Numa de suas saídas conheceu um jovem estrangeiro que dela se aproximou no mercado. O encontro se deu pelos olhos, a porta de entrada para a alma e o único órgão exposto de seu corpo todo envolto em panos pretos.
Tanto os dele, movidos pela curiosidade em saber quem era aquela jovem que o tocou com o olhar quanto ela pelas diferenças culturais tão latentes.
Com o passar do tempo, ficava complicado não pensar em como poderia se livrar das ordens verticais e mileranes e seguir um destino que fosse tão disitinto ao seu. Ele também se enamorara daqueles olhos tristes e cheios de vida ao mesmo tempo.
Conversar só por cartas e às escondidas, tinham cúmplices. Planejamento de fuga era o plano derradeiro para a concretização do que por peça somos e estamos sujeitos pelas ironias dos deuses.
Não deu outra. Em meio a noite escura da lua nova com detalhes bem articulados, ambos fugiram. Ela, na bagagem levava sua burca de núpcias, ele seus sonhos de amor livre, leve e solto.
O que seria desse encontro em novidade de vida? Só o destino traçaria. Só os dias contariam.
Andreia Cunha
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